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A IMAGINAÇÃO DO CRIADOR
Um fato aconteceu comigo, e me levou a recordar certo episódio da minha vida, quando fiz prova para concurso nos anos de 1980. Em uma das questões era para analisar uma composição do Caetano Veloso, e explicar o que ele queria dizer com a letra.
Aquilo me desagradou bastante. Como saberia escrever sobre o que Caetano quis transmitir se eu não conhecia o seu pensamento? No final da análise, lembro de ter escrito: não fiz melhor por não ter conversado com Caetano antes. A ironia esteve presente em mim desde bem cedo. Antes de sair da sala, manifestei ao fiscal da prova, a minha total discordância com o item. Recebi como resposta um sorriso de quem não sabe o que dizer, e me garantiu que levaria meu argumento para os realizadores do quesito. Alguns dias após, o carteiro me entregou uma correspondência da organizadora do concurso informando que minha explanação sobre o polêmico item havia sido de elevada qualidade, mas não era bem a ideia do cantor.
Como não aprecio respostas vazias do “porque sim”, fui atrás de verdade. Costumava brincar que Antoine de Saint-Exupéry se inspirou em mim para criar o Pequeno Príncipe. Enquanto não me dão um argumento convincente, não desisto! Naquela época não tinha a mesma facilidade atual, de se interagir com artistas pelas redes sociais, então lá fui eu buscar nas Listas Amarelas o número de telefone da Redação da Rede Globo. Liguei e perguntei se Caetano havia dado alguma declaração sobre a música, a resposta demorou três dias, porque o atendente me disse que precisaria verificar manualmente nos arquivos. Resultado: nenhuma entrevista concedida pelo músico sobre a composição.
Ontem uma pessoa analisou um conto meu, de forma brilhante, embora não fosse condizente com a mensagem real. E é este o ponto! Depois que escrevo, o texto fica para livre interpretação. O leitor não tem obrigação nem bola de cristal para conhecer os segredos ocultos da mente do autor. Gosto dessa multiplicidade de olhar de cada um sobre o mesmo tema.
Falando nisso, você sabe o que significa “Drão”, na música do Gilberto Gil? Levei anos para descobrir que se trata do apelido da sua esposa Sandra, SanDrão.