Djanira Luz dj@
As Palavras Que Criam Vida...
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@leonardo

MEL AMARGA 

 

 

Mel estava sentada no banco do jardim residencial. Tentou falar com o cãozinho, e não conseguiu. Apavorada percebeu que a sua boca havia desaparecido! Apressada correu para dentro da casa e notou que sua mãe não tinha orelhas, estava tudo tampado. No lugar do costumeiro silêncio ou das palavras sensatas, ela reclamava e xingava o tempo todo. A jovem considerou insuportável o jeito como a mãe se comportava. Resolveu procurar o pai. Era fim de semana, de certo estaria dando um trato no carro. Outro susto! Sr. Haroldo estava sem os olhos. Tateava os objetos e chamava pela filha. Mel achou tudo diferente do normal, porque o pai nunca lhe pedia ajuda, na verdade, pouco se importava com ela.

 

O choro lhe rompeu violento como uma barragem, e foi devastando o peito de dor e de remorso. Lembrou-se de como era indelicada com as pessoas, criticava tudo, e se recusava ouvir as boas orientações da Dona Laura. Preteria o pai como se ele não existisse. Considerava-se superior em relação à família e a toda gente, por isso acreditava que podia tratar mal quem assim desejasse. Apenas seu bem-estar importava, e que se dane o resto! Reviu toda a sua existência num instante, e não teve orgulho de nada.  Em uma pausa reflexiva, percebeu que as atitudes espelhadas em seus pais eram sobre si mesma.  O modo como agia com eles, e com todos que convivia, estava retratado em suas ações. Acostumada a agredir com insultos todo mundo, além de ofender a mãe e desprezar o pai, como se ele não existisse quando, pacientemente, tentava lhe corrigir os maus modos.

 

Sentiu vergonha, enjoo e ranço de si mesma. Como pôde não se enxergar ridícula e insuportável? Chorou compulsivamente até cansar, e adormeceu. Ao acordar, viu que a mãe estava com o habitual jeito amável e as suas palavras eram gentis. O pai tinha olhos atentos e ternos. Correu até eles, os beijou e abraçou como se estivesse retornado para casa após anos. O pesadelo a despertara para a vida, e de como deveria agir desse dia em diante: com respeito e alteridade. O amor precisa ser praticado todo dia.

Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 17/04/2024
Alterado em 17/04/2024
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