E AI?

Tenho acompanhado a greve dos roteiristas e atores de Hollywood, que reivindicam além de reajustes salariais e o pagamento dos direitos autorais, eles também solicitam a regulamentação do uso da “Artificial Intelligence” (AI) na indústria.

Toda essa situação me fez olhar para meu próprio umbigo. Eu que vivo das palavras, elas eclodem em mim, comecei a ponderar:

- E AI, você pode ter uma inteligência muito maior que a minha e criar textos incríveis, mas jamais será capaz de expressar o amor com tamanha fidelidade sem que tenha vivido um romance e nem saberá definir como é a dor de uma saudade ou a tristeza de uma despedida do adeus para nunca mais. Nem mesmo poderá traduzir a emoção e a alegria da maternidade/paternidade. Não conseguirá escrever com tanta ternura o que é sentir o cheiro dos cabelos do filho nem saberá ser fiel ao escrever sobre a felicidade do reencontro. Nem mesmo poderá manifestar em palavras com exatidão sobre os sentimentos fortes como a fúria, a indignação e a revolta causadas pela injustiça.

AI, você pode escrever textos cheios de técnicas, as melhores poesias com rima, métrica e estética, mas o afeto não poderá compor, porque esse privilégio é exclusivo do ser humano. Por mais extraordinárias que sejam suas habilidades, nada superará nem substituirá a fórmula humana. Façamos, pois um acordo, podemos viver em perfeita harmonia, trabalharemos juntas. Você com seu avanço tecnológico tem me auxiliado muito, e não sou contra o novo e ao fascinante, mas que você seja limitada ao racional, que o emocional eu tiro de letra! E nada e ninguém poderá substituir os poetas, escritores, compositores e roteiristas.

Torço para que os roteiristas e artistas tenham seus direitos protegidos e preservados, e que o uso a Inteligência Artificial seja utilizada com respeito e cuidado. E que eu também não perca o meu lugar ao sol.