NARRATIVAS HISTÓRICAS DA JOVANA (BVIW)
Dona Jovana. O nome era para ser Ghiovanna, mas a mãe achou que seria complicado para ela na hora da alfabetização. Então descomplicou abrasileirando. A mulher deu alguns passos e parou no meio da rua. Avistou a casa no fim da rua e começou a falar:
- Aquela casa pertenceu à Dona Filhinha, mãe do meu melhor amigo, onde a gente se reunia todas as tardes depois da aula. Niko era meu guardião. Ele me protegia das crianças chatas da nossa turma. A garotada da vizinhança e os colegas de escola lotavam o quintal para brincadeiras. Nos fundos havia jabuticabeira e uma mangueira. A manga coquinho era maravilhosa! Os dias de verão ficavam mais deliciosos e aromáticos com essa fruta dos deuses! Lembro-me bem do balanço de pneu pendurado na árvore e do tombo que Ivinho levou. A galera morreu de rir. E o menino, de dor. Coitado! O muro da casa era baixo, porque a violência não visitava o bairro. Tudo muito tranquilo naquele tempo. Roubos só de frutas nos quintais vizinhos. Uma vez e outra sumiam os passarinhos do Sr. Dionízio, mas o malandro não tinha sorte, o canto do pássaro o denunciava, e ele era obrigado a devolver. Passava tanta vergonha que se cansou. Foi morar em outra cidade. Hoje a casa mudou bastante. Novos donos, outra arquitetura e moderna pintura. A cor salmão foi trocada pela off White. Sem mangueira, sem balanço e sem a nossa turminha. Fecho os olhos e revivo: vejo do jeito que ela era: cheia de amigos, de vida e de cor! A lembrança boa serve para isto, trazer para o presente o bom e o belo vivido no passado.
O repórter ia anotando com requinte de detalhes cada frase da Jovana. Sua narrativa faria parte do documentário “um pedacinho de mim ficou aqui”.