Djanira Luz dj@
As Palavras Que Criam Vida...
Textos

NARRATIVAS HISTÓRICAS DA JOVANA (BVIW)

 

Dona Jovana. O nome era para ser Ghiovanna, mas a mãe achou que seria complicado para ela na hora da alfabetização. Então descomplicou abrasileirando. A mulher deu alguns passos e parou no meio da rua. Avistou a casa no fim da rua e começou a falar:

 

- Aquela casa pertenceu à Dona Filhinha, mãe do meu melhor amigo, onde a gente se reunia todas as tardes depois da aula. Niko era meu guardião. Ele me protegia das crianças chatas da nossa turma. A garotada da vizinhança e os colegas de escola lotavam o quintal para brincadeiras. Nos fundos havia jabuticabeira e uma mangueira. A manga coquinho era maravilhosa! Os dias de verão ficavam mais deliciosos e aromáticos com essa fruta dos deuses! Lembro-me bem do balanço de pneu pendurado na árvore e do tombo que Ivinho levou. A galera morreu de rir. E o menino, de dor. Coitado! O muro da casa era baixo, porque a violência não visitava o bairro. Tudo muito tranquilo naquele tempo. Roubos só de frutas nos quintais vizinhos. Uma vez e outra sumiam os passarinhos do Sr. Dionízio, mas o malandro não tinha sorte, o canto do pássaro o denunciava, e ele era obrigado a devolver. Passava tanta vergonha que se cansou. Foi morar em outra cidade. Hoje a casa mudou bastante. Novos donos, outra arquitetura e moderna pintura. A cor salmão foi trocada pela off White. Sem mangueira, sem balanço e sem a nossa turminha. Fecho os olhos e revivo: vejo do jeito que ela era: cheia de amigos, de vida e de cor! A lembrança boa serve para isto, trazer para o presente o bom e o belo vivido no passado.

 

O repórter ia anotando com requinte de detalhes cada frase da Jovana. Sua narrativa faria parte do documentário “um pedacinho de mim ficou aqui”.

 

Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 08/08/2023
Alterado em 08/08/2023
Comentários
Site do Escritor criado por Recanto das Letras