HIPOTENUSA QUE NADA!
Juninho era um menino esperto e atento. Morava no sobrado verde com os irmãos. Os ruivos idênticos. Ele, mulato dos cabelos lisos. Era o índio de Sulacap. Por isso foi escolhido para atuar como Peri da peça "O Guarani", no Festival de Teatro estudantil. Diferente dos gêmeos, Juninho não gostava de ir para escola, só não reclamava das quartas, dia do treino de Futsal.
- Vamos, Júnior! Todo dia essa chateação de me estressar com você por se atrasar. Seus irmãos já foram, anda que alcança eles pela servidão.
- Mas mãe, eu aprendo mais na rua que na escola!
- Na rua aprende malandragem, na escola a ser gente na vida!
- Ora, e quem não estuda, não é gente?
- Deixe de me enrolar e COOORRE, garoto! – Odete deu um berro de acordar o Céu inteiro. Sem mais contestar, Juninho pegou a mochila, e de dois saltos, alcançou os irmãos que riam do grito da mãe. Os gêmeos tinham dezessete anos, entendiam bem a mente do irmão de treze. Passaram pela mesma fase de incertezas.
- Aí, índio, não fica triste com mãe, ela só quer nosso bem. A gente precisa estudar para melhorar de vida. Poder comprar o que quiser e ajudar nas despesas de casa...
- Na escola a gente aprende coisa chata e nem tudo se usa quando cresce. A mãe, por exemplo, estudou tanto, e nunca ouvi ela usando nada de 2Pir ao quadrado nem da hipotenusa!
- Ha, ha, ha, tem razão!- Riram os gêmeos.
- Eu gosto é de ficar ouvindo histórias da Dona Cotinha e de tocar pandeiro com seu Nicolau. E com os moleques abusados, aprendo a não querer ser como eles. A escola da vida tem mais poesia, beleza e lição. – Considerou Juninho.