RECORTES DA VIDA (BVIW)
Havia uma menina, na estrada de cima do Irajá, muito diferente. Ela era pequena, mas era grande. Parece meio contraditória esta descrição. É que era miúda em idade, e a mente crescida de ideias. Sissa era observadora. Seus olhos caramelos não perdiam nenhum detalhe. Nas férias era quando tinha oportunidade de prestar maior atenção em tudo, embora nem tudo compreendia com clareza, e dizia para mãe:
“- Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome: cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo... Cores!”
Dona Carla sentia orgulho em ter uma menina tão esperta. Fruto das leituras noturnas que o pai fazia para ela, e das músicas clássicas tocadas para dormir.
Sissa algumas vezes saía com frases filosóficas de deixar os amigos admirados com tamanha sabedoria:
- Enquanto smartphones e televisores algemam a mente, livros a libertam.
Gostava da solidão para analisar pessoas e situações, a fim de entender o porquê ou para quê das coisas. A vida, para ela, era um labirinto, e por vezes se perdia com inquietações. Sons, cores, gostos, formas, um emaranhado de tudo à sua volta construindo ou desconstruindo conceitos, e transformando histórias de cada ser.
À certa altura, no trajeto para a pousada, a menina pediu ao pai que colocasse no Spotify a música “Esquadros” da Adriana Calcanhoto, cuja cantora, Sissa muito se identificava.
Tema proposto pelo BVIW - Conto embalado por uma letra de música, contendo um trecho da música e autoria.
(BVIW - *BECOMING VERY IMPORTANTE WRITER/ "Tornando-se um escritor muito importante").