GANHAR NO DITO (BVIW)

Por volta das vinte e três horas, Dolores morria de medo só em passar na travessa dos Nikolais, precisamente em frente ao número 7. Aquela janela entreaberta dava uma sensação ruim. O frio corria-lhe a espinha arrepiando o corpo inteiro. O jeito era apelar para a oração dos antepassados:

- “São Bento na água benta, Jesus Cristo no altar, bicho brabo se retire, e deixe-nos passar!”

De cabeça baixa ficava a jovem até atravessar a casa cinzenta. Não havia uma pessoa sequer na rua, o que fazia seu coração acelerar e as pernas bambearem. Chegando em casa, estava mais branca que o batente da porta. A mãe dava risada:

- Menina! Você viu fantasma? Cara pálida de pavor...

- Mãe, é um desespero passar pela casa da Neide. Tudo apagado, só uma fresta aberta. Parece casa assombrada, Deus que me perdoe!

- É cisma sua, filha. A Neide ficou órfã, por isso gosta de vigiar a rua durante a noite. Ninguém a vê, e ela a tudo observa. – Seu Geraldo acalmou Dolores.

No entanto, o ritual do medo se repetia. Mas nesse dia, um "psiu" vindo da casa, apavorou ainda mais a jovem:

- Sai bicho ruim da minha frente! Que Nossa Senhora me defenda do capeta!

Uma voz soprosa e fraca se ouvia pela janela: - Não quero ganhar no grito. Quero ganhar no dito... Abaixa o tom de voz.

Desconcertada, e sem saber o que falar ou fazer. Dolores ficou parada olhando para a casa. A porta se abriu. Saiu dela, indo em sua direção, uma imagem esguia. Toda de branco.

- Ai, que susto, mulher! Precisava vir monocromática? Parece um fantasma!

- Ué! Pelo contrário! Estou mais colorida que você com esse lilás e azul. Acaso não sabe que branco é a união de todas as cores? Então, sou um arco-íris!

As duas começaram a gargalhar, e a partir desse dia se tornaram amigas e companheiras de longas histórias, e boas risadas.

Tema proposto BVIW: Da janela entreaberta.