Djanira Luz dj@
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CARTA DE UMA DEPRESSIVA

 

Não é fácil expor meu problema. Dói tudo. Sentir, falar, admitir. Nada, porém, é mais doloroso que o julgamento e a indiferença da família e dos amigos. As pessoas gostam de opinar sobre o que não sabem, e o pior, de forma equivocada:

 

“- É frescura! Tem uma vida que pediu a Deus, e inventa de estresse.”

 

-“E pobre por acaso tem depressão? Isso é doença de rico que não tem com que se preocupar!”

 

“- Está desse jeito, porque não reza, não tem fé!”

 

“- Isso é falta de serviço! Quero ver infeliz que ganha um salário ter depressão!”

 

“- Estranho, ela falou que não sabe por que está chorando... É mimada demais!”

 

Há muita crítica e pouco entendimento. A depressão não faz distinção de nada nem ninguém. Atinge todo gênero sexual, toda faixa etária, toda classe social. Leigos e religiosos, inclusive. Será que não pensam nisso?

Não é frescura, porque ricos e pobres são acometidos desse mal. E o que dizer dos religiosos que volta e meia se afastam da missão por conta da depressão?

 

No meu recolhimento fico me punindo, porque a pessoa em crise se isola, e se afunda ainda mais em culpas. Culpa essa que descobri, depois de muitas acusações e lágrimas, não ser minha. Quem em sã consciência quer parar de sorrir ou deixar de conviver com as pessoas que mais ama? Quem estando bem, no psicológico, não tem ânimo para as ações mais simples como tomar banho, escovar dentes, trocar de roupa, arrumar a casa?

 

É preciso ter empatia! Colocar-se no meu lugar, tentar entender o que estou sentindo, e procurar me ajudar de alguma forma, mas jamais me dizer que sou fraca, fresca, mimada. Essas opiniões só pioram e me fazem ficar mais perdida e introspectiva. Agravando meu estado solitário.

 

Descobri, em conversas com amigos, que a causa da ansiedade que desencadeou todo o processo depressivo, pode ter raízes lá atrás no meu passado. Posso ter sido abrigada a assumir responsabilidades na idade em que ainda não estava preparada. Pode ser também, que a vida toda me fiz de forte, segurei muita barra para cuidar das pessoas, para manter o trabalho fluindo, para ser exemplo para filhos e netos.

 

De fato é bem isso, eu quis me fazer fortaleza para ser exemplo para funcionários, para a família e para meus amigos, mas chegou o momento em que, depois de tantas lutas, tive medo de enfrentar mais uma. E se eu fracassar? E se eu não conseguir? O que fazer?

 

Não ter demonstrado minha fraqueza, não ter chorado como deveria, me fez acumular sentimentos nocivos, e agora estou aqui, tentando sair do labirinto que eu mesma me coloquei. Não agi consciente, mas para fazer o bem, para manter a ordem, me sobrecarreguei. E agora estou em total desorganização.

 

Minha família foi a primeira a me recomendar ajuda de um profissional, embora eu acreditasse que conseguiria me curar sem terapia ou medicação. E este foi meu erro, se tivesse buscado ajuda no início dos primeiros sinais, se eu não tivesse mantido esta mania de autossuficiência, talvez não teria me afundado tanto em tristeza e dor. Porque dói, sabia? A dor psicológica é muito triste, porque tenho consciência, mas não tenho disposição para lutar contra este mal. Meu grande medo era que minha família e meus amigos se cansassem e desistissem de mim, porque eu ficava arredia, um pouco agressiva, mas é que não sabia lidar com meus sentimentos.

 

Aos poucos vou me reerguendo, sem pressa. Porque a agitação e a correria, essa dupla, foi o que desencadeou todo o processo depressivo. Lamento não ter dado uma pausa, lamento ter tentado resolver tudo sozinha e para ontem. Hoje sei, preciso ter consciência de que não sou Deus, não posso consertar os problemas do mundo nem curar as pessoas que amo, então, não adianta me preocupar. E esta orientação deixo para você que está no início da ansiedade ou que está em estágio adiantado da depressão. Não se preocupe. Não tenha pressa. E não escute as pessoas mal informadas que desconhecem a luta diária que estamos enfrentando. Respeite seu ritmo, e não tente acumular responsabilidade ou problema que não compete a você solucionar.

 

DEPRESSÃO não é frescura. Não é falta de fé. Não é culpa sua! É um processo pelo qual você eu estamos passando, cuja vontade não é nossa. Repito, ninguém quer adoecer!

 

 

 

 

ADENDO: criei este texto após refletir sobre parentes e amigos com depressão. Algumas das orientações que dei a essas pessoas, acrescentei ao texto a fim de que possa ajudar outras pessoas que estão enfrentando a mesma batalha. E, aconselho a você que está sadio, não critique, não julgue, não opine. Apenas ame. Evite perguntar o motivo do choro, a depressão é justo isso, uma tristeza profunda que não se explica. Dê seu carinho, e ouça mais do que fale. Será uma grande contribuição. Ao primeiro sinal de choro sem explicação que se repete com certa frequência, não ignore os sintomas, busque ajuda de um profissional. (Com amor, Djanira Luz)

Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 24/01/2022
Alterado em 24/01/2022
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