O SEGREDO DO ASSOBIO (BVIW)
Debaixo da mangueira, aproveitando o frescor que a sombra proporcionava, Lucy abriu a história da própria vida como quem abre um livro de contos. Olhando para a árvore disse para a criança.
- Antes de vir ao mundo como humana, eu vim como passarinho, sabia? Adoro frutas! – Deu a gargalhada mais gostosa que se já se ouvira, e continuou:
- Sinto falta das frutas de quando eu era menina. Já não vejo amêndoa, jamelão, seriguela, abricó, tamarindo, ingá, cajá-manga, cajá-mirim... Era comum em todo quintal haver pelo menos um pé dessas frutas. E se não tinha em casa, a gente pulava na dos vizinhos. Não havia fruta mais gostosa que a roubada! Agora nem as amendoeiras nas ruas vejo mais. Que tristeza...
Liane fitava a mãe com os olhos amendoados bem atentos, admirada com o que acabara de ouvir. E em sua cabecinha acreditou ser invenção da Dona Lucy, porque não havia experimentado nenhuma das frutas mencionadas.
Levantando-se do tamborete, Lucy avisou:
- Agora irei fechar o baú das lembranças e preparar o almoço. – Saiu assobiando.
A menina, impressionada com o que a mãe dissera, e de como deveria ter sido maravilhoso viver no tempo dela. Ficou na dúvida, também, se ela havia sido mesmo um passarinho, porque o assobio era idêntico ao do sabiá que toda manhã visitava o quintal. Esse mistério Liane preservou em si no diário secreto da mente, para que ninguém soubesse e tentasse cortar as asas criativas da mãe amada.
Tema proposto pelo BVIW: A infância da mãe