POR DENTRO, AS RESPOSTAS (BVIW)
Berto sabia, a paciente das 14h15 era uma comédia. Em seu parecer, ela nem precisava de terapia. Chegou feito furacão Katrina. Pisando forte com os saltos agulha, jogou a bolsa na cadeira. Tirou os sapatos, deitou-se no divã. Abraçou a almofada colocando-a em direção à boca, soltando um grito sufocado:
- Odeeeeeeio Gerard! Ele é um jumento de ignorante!!!
Com o cotovelo direito sobre o sofá, e a mão sustentando a cabeça, o psicanalista ouvia a jovem como quem conhecesse seus pensamentos. Era mais uma crise com o noivo. E como das vezes anteriores, por futilidades. As flores da Holanda não chegariam a tempo para o casamento. Gerard não quis o tom escolhido por ela para o smoking.
O psicanalista ouvia, e com certeza, ria por dentro. A ética, porém, fazia com que conservasse cara de paisagem. Por vezes se dispersava pensando na mulher lhe aguardando para o jantar ou no filme que adiaram pares de dias, talvez na viagem para a pousada nas montanhas. De repente era trazido de volta para a consulta aos berros de Elisa: .
- O que eu faço agora, Berto?
Era preciso recorrer à ajuda divina para não dar resposta irônica.
- Tem feito o que sugeri? Listou no caderno os bons e os maus adjetivos do rapaz, e verificou se vale a pena continuar o noivado?
- Credo! Nem me fale em terminar! Não sabe que o amo? Venho aqui para não me estressar com ele, pois diria coisas que nem eu mesma me perdoaria. Dito isso, abriu com delicadeza os braços, sorriu para o terapeuta, levantou-se na elegância, calçou os sapatos, ajeitou a almofada, pegou a bolsa dando uma tremidinha no corpo como se estivesse feliz. Despediu-se, e se foi. Ainda na porta, voltou-se para o psicanalista dizendo:
- Você é um ótimo profissional! Toda vez saio daqui maravilhosa. Namastê!
Ele bem sabia, certas vezes é preciso apenas ouvir o paciente, e deixar que ele mesmo escute as respostas que traz em si.