Esquecer é controverso. Esquecer quem se ama não é algo tão fácil como se deseja, mas esquecer torna-se um problema quando a porta da casa fica aberta, e a gente só lembra disso no meio do caminho. Dificuldade maior terá se por esquecimento não pagar qualquer fatura. Outro dia descendo a Serra indo para o Rio, lembrei da bolsa que ficou sobre a cama. Imagina retornar cento e catorze quilômetros, e não ser você no volante... Que embaraçoso! Esquecer só é bom para fatos ou pessoas desagradáveis, fora isso, boa memória é dádiva!

Antes do isolamento social, participei da Campanha “Esqueça um livro”, cujo objetivo é deixar um exemplar em algum lugar da cidade com um bilhete explicando. Tive o desejo de aguardar e ver como a pessoa reagiria ao pegar o livro, mas certos acontecimentos devem ficar em nossa imaginação. A gente nunca sabe a conduta das pessoas. Fui prudente em seguir meu caminho torcendo que o livro fosse bem aproveitado.

Na volta para casa vim desejando que o último parágrafo do livro envolvesse quem o encontrasse, a ponto de despertar o prazer da leitura e a vontade de não mais parar. Por isso que um bom livro deve iniciar de forma a prender o leitor até a última página, e ao final deixar boa impressão, de modo não se consiga mais esquecer do livro nem do autor.