Não queria ter lembranças, Marjorie tentava ocupar a mente. Evitava pensar, mas quem disse que coração tem rédeas? Ele aciona o botão da saudade, e o cérebro que se lasque em sofrimento do amor pendente. Era dia dos namorados, e por mais que evitasse nostalgias, o sentimento era mais forte que a razão. Haveria conformidade se o romance com Diogo tivesse terminado por falta de amor, mas não. A ruptura foi inevitável. A separação de corpos, sim. A dos corações nunca aconteceu. Era como se tivessem a vida toda de mãos dadas. Amor quando forte o bastante consegue permanecer para sempre. Quando Marjorie precisava de conselho, era Silas, o velho e sábio caiçara que a confortava.

- Ah, meu querido amigo, estar com você deveria ser uma indicação médica! Uma terapia toda vez que venho aqui...

Silas sorriu. Amava a companhia da Marjorie, e de poder socorrer-lhe em seus conflitos. Sabia, a data mexia com o emocional da amiga. Depois de longa conversa, o caiçara concluiu:

- Doce Marjorie, está vendo este motor de popa do meu barco? Ele é cheio de pecinhas, quando uma se perde, não tem como funcionar. Ou se encontra a peça ou se compra uma nova. Não é diferente na relação a dois. Quando algo não se encaixa, está faltando alguma peça: de compreensão, respeito, paciência, enfim, algo que não permite a relação seguir bem, o que pode causar a separação. O amor deve ser respeitado e vivido. Algumas vezes é preciso romper com conceitos preestabelecidos para amar. Por amor vale a pena sair do comodismo, mudar o percurso. Amor é uma preciosidade, assim como significado do seu nome: Pérola. Você é uma raridade, Marjorie! Nunca se esqueça disto.

Do outro lado da cidade, Diogo teve um Insight, e preferiu quebrar regras a correr risco de outra vez perder o amor da sua vida. Convicto de bastar uma vez sofrer pelo amor inacabado, entendeu: quando o destino cruza dois caminhos, eles se tornam uma única estrada. E tomando a estrada seguiu em direção a Região dos Lagos, onde vivia sua valiosa pérola.