A COR DO HIATO (BVIW)
A espera durou muito até conseguir engravidar. O desejo de ser mãe era antigo, ensaiava com as bonecas quando ainda era apenas uma menina de cinco anos. Todos percebiam a maternidade aflorada na alma da princesinha Pérola. Dava gosto em ver o carinho com que segurava o brinquedo. Algumas pessoas acreditavam ser um bebê de verdade, tamanho cuidado com que a menina o embalava.
Passou o tempo, a boneca foi deixada de lado. Não o sonho. Os estudos, porém, fizeram Pérola adiar a vontade por anos, até que enfim, se apaixonou. Diogo, rapaz educado, responsável e muito divertido conquistou o amor da jovem. Não demorou muito para o casamento. Foram feitos um para o outro, diziam.
Passada a euforia do primeiro ano, quando o casal se conheceu mais intimamente, chegara o momento de realizar o grande sonho. Idas ao médico, e na volta, Pérola sempre namorava roupinhas de bebê. Puro encanto! No dia que se constatou a gravidez, não sabia quem estava mais feliz. Diogo e a gravidinha pareciam duas crianças à espera de presentes!
Os dias passavam serenos. Expectativas, alegria e ansiedade nos corações dos futuros papais. Mas um dia cinza se fez. Pérola sentiu grande desconforto. Os médicos não puderam salvar o bebê. Enorme dor envolveu o jovem casal.
Silêncio profundo. Choro interminável. Amor inacabado. Tudo pareceu perder o sentido. E nada mais valer à pena. A dor da perda faz um estrago imenso no ser. Encontrando forças, Pérola abraçada ao casaquinho azul, sentido aquele imenso e inesperado hiato, sussurrou:
- O vazio da sua ausência encheu-me de saudade.