E SOLTA O CHORO! (BVIW)
Quando Dolores pegava as cartas do baralho para ir ao Clube, Norberto caía no choro. Esse lamento era pela certeza que a esposa voltaria com menos cifras na carteira ou, pior, aumentaria os gastos com o talão de cheques! Quase todo fim de semana era vale de lágrimas para o infeliz marido que não conseguia impedir aquele vício miserável da mulher. Para Dinéia, diferente dele, as cartas que faziam molhar sua face eram as de amor. A saudade escorria em lágrimas a cada palavra lida do noivo. A intensidade do choro da menina daria para formar o Oceano que a separava do marinheiro. Por outro lado, as crianças e os jovens de hoje não conheceram nem saberão o que é receber uma carta de amor, de adeus, de amizade ou de bons desejos. Essa sensação de esperar por uma, e de tentar adivinhar o conteúdo antes de abrir o envelope, só quem teve essa oportunidade, como eu, sabe como era maravilhoso. Até para criar minhas histórias elas serviram, porque me estimulavam a criatividade, e me faziam imaginar a pessoa sentada escrevendo, pensando em mim, o lugar onde estava. Podia vesti-la com as roupas e as cores que eu quisesse. Era muito bom! Na verdade, as únicas cartas que farão esta nova geração chorar, são as de cobrança. Para essas cartas não houve evolução, elas chegam impressas “sem dó nem piedade”. E solta o choro!
Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 17/09/2019