A mulher à porta da sala perplexa com o destempero do marido que saiu esbravejando: "- VOU PARA PASÁRGADA!!!". Apesar de parecer um adeus sem volta, consigo apenas a pequena e fiel maleta. Silas seguia a passos largos e pesados. Pesados eram também seus pensamentos. Vivia uma fase difícil. Problemas na família. Insatisfação no trabalho. Aridez de ideias. Conflitos internos. Quando entrou no vagão notou fato incomum. Um clima de paz pairava no ar. O semblante dos passageiros era diferente do habitual. Então algo mais incrível acontecera. O trem foi subindo em direção ao Céu! Quando menos imaginou, já estava cercado por nuvens. Do lado de fora, jovens sorridentes lhe ofereciam sorvete Sabor Aroma da Manhã. Era de orvalho congelado com gotas de alegria. Mesmo estranhando tudo, aceitou. Estava mesmo precisando daquela leveza. Mal acabara de provar o agrado, o maquinista acelerou em direção ao Oceano. Acelerado ficou mais o coração de Silas. O trem fez como a gaivota que mergulha na velocidade à busca de peixe. Surpresa maior Silas teve ao conseguir respirar debaixo da água! Uma sereia entrou no vagão, linda com suas íris de cor lilás. Ofereceu aos passageiros água doce! A água refrescara-lhe o corpo e a mente conturbados. Antes de retornar para a superfície, numa gruta onde peixes se abrigavam, Silas leu:  Quando você não vem, os pássaros não cantam nem o vento assobia. Dentro em mim marasmo, tudo silencia.  Aquelas palavras deram-lhe novo ânimo. Sim, sem inspiração nada flui! Foi o tempo de um respiro, e Silas se viu de volta na estação. Correu para casa, e escrevera a melhor matéria da sua vida!