Djanira Luz dj@
As Palavras Que Criam Vida...
Textos
Imagem do arquivo pessoal- "Reproduzindo o passado".
NÓ CEGO E GOSTOSURAS!
Uma sacola de mercado bem fechada com um nó cego era a certeza de que dentro muitas gostosuras para minha tentação. Parecia ouvir a voz dos meus pais: "Doce só depois das refeições, não mexam!" Vai dizer isso para mim que fui nascer com a curiosidade de um gato? Não era fácil desfazer os nós. Demorava um tempo bom. Ficava cansada e minhas unhas doíam. Mas desistir, nem pensar!
Algumas vezes o conteúdo eram as balinhas formato de boneca ou Confeitos. Em outros momentos encontrava os deliciosos cigarrinhos de chocolate. E quando era Mirabel eu ficava toda feliz com a variedade de sabores que vinham nas caixas! Quando era pacote de balas, os sabores eram diversos: mel com recheio. Nossa que delícia! Côco queimado, cereja, Tutti Frutti, pêra, morango, uva, damasco e canela. Lá em casa só eu gostava das de canela, meus irmãos reclamavam da ardência na língua. Para mim acostumada com o ardor da pimenta desde os três anos de idade, bala de canela era refresco!
E as balas Soft? O formato e a transparência me seduziam. Depois de quase morrer engasgada com uma bala Soft de caramelo não via mais graça nelas. Apavorava-me só de olhar! Aí eu comecei a questionar o motivo de terem criado uma bala redonda e escorregadia. Deveria ser para matar as crianças mesmo, pois ia direito para a garganta e ficava lá entalada deixando os pais desesperados!
Como temos um preço a pagar pela curiosidade e desobediência, meu dia haveria de chegar! Estava sobre a mesa mais uma vez, uma sacola com nó de gostosuras. Sem pensar em nada além do doce sabor, depois de tantas tentativas, desfiz o nós. É! Naquele dia, os doces estavam dentro de duas sacolas. Supresa! Não havia doce nenhum. Era uma lata de leite Ninho... Achei que papai havia posto os doces dentro da lata para ninguém mexer. E na minha cabeça de criança que muito imagina, imaginei ser algo delicioso para tanto segredo. Com a ajuda de uma colher abri a tampa da lata. Misericórida!!! Parecia haver mil demônios presos dentro dela e eu por descuido os libertara! O mau cheiro tomou conta da copa atraindo moscas para perto de mim. Dentro da lata vísceras de peixe e, pelo visto, estavam lá há mais de um dia. Aos poucos a cozinha foi ficando cheia também de gente. Meus irmãos, minha mãe e meu pai com sua cara enfezada. A coisa para mim ficou tão fedida quanto os restos mortais do peixe!
Ali todo mundo descobriu quem era a curiosa que abria a sacola antes das refeições. Bem feito para mim que aprendi a me conter depois daquele dia fétido, embora não comesse nada antes, somente gostava de ver o que estava à minha espera.
Levou-se tempo para sair o fedor da casa. Parecia impregnado em mim. O conteúdo da lata deveria ser gostosura sim para um gato de verdade, não para a mim, apenas uma menina curiosa...
Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 08/11/2011
Alterado em 08/11/2011