Textos
Imagem através da nova casa. Ao fundo, o morro rasgado.
HÁ MUITO MAIS AZUIS E FLORES! Nunca é fácil e nada é fácil em reconstruções. Sejam renovações de casas ou edificações de vida. No entanto, nada é impossível de fazer de novo!
Entre perdas e danos, recolhendo o que restou depois das chuvas que levaram embora de mim as lembranças materiais, percebi o muito que tinha acumulado nos tantos anos idos. A casa grande possibilitava-me amontoar mais e mais ao passar dos dias. Com toda a bagunça e estrago do desabamento vi que muito do que tinha era supérfluo e quase nem me lembrava de certas coisas guardadas. Só quando se perde é que se valoriza ou se sente falta? Então acredito que posso viver com bem menos do que antes.
Do dia 12/01/2011 venho aprendendo e reaprendendo. Descobrindo e redescobrindo bastante valores no mundo que me cerca. Aprendi o valor de ser amada verdadeiramente. Incondicionalmente. Amigos que me salvaram a vida. Amigos que me abrigaram o corpo. Amigos que alimentaram meu espírito com os mais deliciosos sentimentos e com odores surpreendentes! Amigos que saciaram o apetite do corpo, mas muito mais a fome do abraço gostoso, do beijo bom. Quantos amigos fizeram festa só por me saber viva.
Redescobri o quanto sou amada. Ter ouvido “eu te amo” entre emoção e alegria na voz que me revelava carinho, fizeram dos meus dias nublados e enlameados plenos dias floridos de Sol de primavera! Amor é tão poderoso em palavras, gestos e sentires que apenas três palavrinhas fizeram sorrir toda minha alma quebrantada pela tragédia. Sim! Eu redescobri a força da amizade e o poder do amor. E aprendi a grandiosidade da solidariedade. Provei da nobreza da partilha generosa dos amigos que se fizeram irmãos.
Com tudo que se foi de mim, posso garantir que estou mais rica do que antes! Pois o que está dentro de nós ou que recebemos do interior de pessoas queridas é a única coisa que importa neste mundo. Tudo mais é transitório. Tudo mais se conquista e se reconquista e se constroi e se reconstroi. Estou pronta outra vez para continuar minha caminhada. Minha escalada de experiências.
Já não enxergo mais as montanhas rasgadas da cidade, nem o rastro de destruição por onde passo. Eu vejo flores! Vejo o céu azul me dizendo: “Tudo bem, amiga, você é um milagre! É uma sobrevivente entre tantos saldos negativos. Está viva, não é? Então viva em plenitude seus dias como se cada momento fosse o último! É assim que ajo quando preciso deixar minhas vestes azul celeste e trocar pelo manto negro da noite. Aproveito ao máximo da beleza da luz do dia! Viva, amiga! Viva! Aproveite os segundos. Cada momento. Celebre toda hora. A vida é feita de momentos únicos. Não foi isto que você escreveu outro dia, mulher?”
Depois de contemplar e compreender o ensinamento silencioso do azul celeste meu sorriso vai para o outro lado das montanhas feridas e enxerga lá além do horizonte onde o chão enxuto me faz pisar em gramas verdinhas e o Sol me aquece em abraços dourados. Sim! Tive perdas, mas é muito bom estar viva! O destino levou de mim amigos amados, pessoas queridas, porém, entendo cada um tem um tempo certo para se cumprir neste plano terreno. E se fiquei para contar história, que sejam de esperança e alegria que mais gosto e sei fazer neste mundo. Esta é minha missão. Levar sorrisos em letras brandas e palavras que beijam e caminham de mãos dadas com quem quiser ler minhas idéias.
Ah! Depois de tanto sofrimento visto pela cidade, o que passei com minha família foi mera farpa no dedo. Nem um milésimo do que o Cristo sofreu por mim, por nós...
Seja Feliz todo dia!rs
Flor da rua onde mora a Estrela (amiga linda e querida que me abraçou e abrigou em seu lar).
Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 10/02/2011
Alterado em 03/12/2019