Djanira Luz dj@
As Palavras Que Criam Vida...
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A VINGANÇA DO CADÁVER!



Quando Jovenilda inventava de contar aqueles casos ou fatos passados, a molecada ficava sentado em volta dela para ouvir suas interessantes histórias. Ninguém queria perder nenhuma de suas falas:

- Aconteceu mesmo pelos lados de Ipanema, Minas Gerais. Hoje, eu Jovenilda de Assis, vou contar um acontecido de deixar gente duvidando, mas é tudo verdade verdadeira.

E Jovenilda começou seu relato:

"Os moradores mais antigos se lembram desta história real passada de geração a geração. É certo que no meio dessa transição, há sempre aquele que “aumenta um ponto”, porém, a essência é que o que interessa, eu contarei...

Nomes não recordo, então os invento. Lá vou eu pondo mais um ponto nessa história. Eita nós!

Malandro quer tirar vantagem em tudo e em todos quanto vê. Não escapa nem o pobre do defunto.

Pois é!  Nanau era o típico ladrão de defunto da cidadezinha de Minas! Um pecado bulir com quem bateu as botas, mas homem que rouba não tem coração, quero dizer, “coração de bandido é na sola do pé” e de Nanau não era diferente porque nunca vi “neguim” correr mais rápido que ele. Descida pirambeiras em dois tempo, tamanha agilidade da peste. Além de correr, o capeta pulava como se pulasse corregozinho de tanta facilidade.

Habilidoso na arte do furto, ele se especializou em roubar catacumbas. Era só a igreja anunciar algum falecimento no alto-falante lá no alto da torre que Nanau já ficava de butuca e de ouvido em pé para saber quem era o “presunto” da vez. Nanau não era bobo não, era é muito ativo! Se era um pobre infeliz que morria, pobre de pobre mesmo, não pobre por que morreu, pobre sem dinheiro no banco como canta Belchior... Ele nem se dava o luxo de ir ao cemitério, nem mesmo para velar o falecido.

Agora, meu amigo, se o falecido fosse um homem abastado. Se vivesse montado na grana, aí Nanau até chorava, fazia maior encenação para ficar próximo ao caixão e ver se o defunto trazia anel nos dedos, sapatos de marcas famosas e se trajava terno de linho italiano... Ladrão exigente aquele tal de Nanau, só queria coisa boa!

O ladrão esperava o desfecho do enterro e pela madrugada lá se ia ele de sacola, lanterna e uma pá para desenterrar o morto – Jovenilda contava tão bem que a molecada chegava ver a cena.

"- Nossa, seu Dorival, que barrigão! Também comia feito touro naquela mesa farta de quitutes caros e saborosos... Não sabe, meu “véio” que mesa farta leva ao infarto?" – Nanau falou com o defunto Dorival. O ladrão era tão habituado a roubar em cemitérios que nem sentia mais medo dos mortos e ainda caçoava deles.

Nanau já tinha até um esquema para tirar a roupa e os pertences do morto. Carregava até a entrada do cemitério o corpo pesado do defunto.
O corpo do cadáver logo que  perde o calor da vida e se resfria, fica todo rígido. Nanau experiente com essas coisas, malandro que era, colocava o defunto com costas nas grades do portão do cemitério. As mãos endurecidas do seu Dorival eram usadas para segurar as grades, de forma que o corpo facilitasse tirar as calças, o terno, os sapatos do defunto.

Olhando para o velho de braços abertos feito o Cristo na cruz, Nanau pensava por onde iria começar a sua investida de surrupiar os bens do cadáver.

Estava todo satisfeito com a mercadoria que o morto trazia. Nanau não cabia em si de alegria! Primeiro tirou as alianças e aquele anel enorme de ouro vinte e dois quilates com a imagem de São Jorge em relevo. Apreciando o terno dizia:

“-Um legítimo Risca de Giz!” – Contentou-se Nanau com aquele terno italiano.

 O malandro só não contava com que iria acontecer naquela noite de lua cheia...

Retirou as calças, porém, no momento em que Nanau tirava o paletó do seu Dorival, um dos braços robustos do velho soltou das grades e passou por detrás da nuca do ladrão dando-lhe um abraço. O ladrão entrou em desespero.

Nanau ficou cara a cara com o defunto quase dando um beijo gélido naquele velho bigodudo com bafo de clorofórmio. O ladrão foi ficandoi apavorado. Entrou em pânico, pois quanto mais tentava livrar-se do morto, mais preso ficava, o braço robusto do seu Dorival o estava asfixiando.

No dia seguinte, foi o maior fuzuê na cidadezinha. Coisa mais inusitada aquela cena do velho Dorival morto, trajando apenas o paletó, sunga e meias agarrado com o também falecido Nanau...

Houve quem dissesse que Nanau era necrófilo. Na cidade não se ouvia falar  noutro assunto a não ser nesse do defunto que se vingou do ladrão de cemitérios...

A verdade mesmo é que Nanau morreu foi de susto e asfixiado. Roxinho, roxinho..." - Revelou finalizando a história, Jovenilda, a contadora de causos de Minas.

Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 10/03/2009
Alterado em 02/01/2010
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