A VIDA DOCE DE UM MENINO...
Gosto de bala, de caramelo, de morango, de chocolate, de uva. Só não gosto de canela que arde a língua. Tem bala dura e bala mole. Tem umas que agarram nos dentes e outras duras como vidros. A bala é docinha e enche minha boca d’água. Eu até babo de tanta saliva! Coisa chata é a mãe da gente falando mal das balas:
- Menino vai ficar com cárie, com diabetes... gordo!
Será que mãe só vê o lado ruim da vida? Ora, bolas! Minha mãe tem horas que parece aquele adivinho *“Nostádandus”, é um homem que adivinhou o que iria acontecer. Mas, ele previu só coisa ruim. Assim é fácil! Igual a minha mãe, se eu ando de skate ou patins, lá vem ela:
- Menino, vai quebrar o braço, as pernas, a cabeça, cuidado!!!
E olha que só ralei o joelho porque teimei em não colocar a danada de joelheira... Tirei o tampo do joelho, doeu “pra dedéu”!
Mamãe é uma graça! Quando brincava com o Niko de virar o olho... Acho que todo criança e alguns adultos já fizeram essa brincadeira, sabe o que mamãe disse:
- Menino! Pára com isso porque senão vem um vento contrário e você vai ficar assim pra sempre!
Vento contrário? Tem vento certo? Só sei que tem vento calmo, a brisa; vento forte, ventania, vento mais forte ainda, tufão. Agora, vento contrário deve ser invenção da minha mãe, pois nem ela soube me explicar quando perguntei...
Tem mais uma coisa, se eu dou cambalhotas, ela se desespera. É certo que vou ouvir:
- Menino!!! Assim vai quebrar o pescoço... Pelo amor de Deus!
Acho que minha mãe já nasceu do tamanho de mãe. Será que não foi criança ou será que a vida e os problemas apagaram da mente as traquinagens dos tempos dela de criança?
Nem vou falar das vezes que tentei pegar uma faca para cascar laranja ou acender um fósforo para derreter meu mashmallow. Tudo é perigoso aos olhos da minha mãe. Mas, se eu não errar, não queimar minha mão ou talhar o dedo, como aprenderei que isso dói? “Só se aprende com erros” ouvi mamãe dizer para dona Clotilde. Então, por que ela não permite que eu erre agora? Que coisa difícil de entender é cabeça de mãe!
Conversei com meus colegas e descobri que mãe é tudo igual. E que preocupação assim que mãe tem, é amor demais. Mãe que ama muito é assim mesmo... Uma chata!
Espero, então, que minha mãe seja chata por toda vida... Esse cuidado dela comigo é o mesmo que dizer: “-Menino, mamãe ama você!”
Enquanto minha mãe fica amargando de preocupação, coloco mais uma bala na boca e fico aqui sentado na goiabeira achando a vida docinha, docinha...
NOTA:
* Esclarecimentos para o pequenino que ler este continho...
Olá, criança! O menino do conto tem seis anos e não sabe muita coisa ainda, ele falou "Nostádandus", porém o certo é Nostradamus. O Nostradamus foi um farmacêutico que pretendia ser médico e que praticava a astrologia e a alquimia. Ele ficou conhecido por ter a capacidade de prever acontecimentos futuros (vidência), inclusive o atentado das Torres Gêmeas nos Estados Unidos em 11 de setembro.
Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 19/02/2009
Alterado em 19/02/2009