Djanira Luz dj@
As Palavras Que Criam Vida...
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BRIGA DE COMADRES FIÉIS...

Coisa mais divertida é briga de comadres! Dona Wanda estava em pé de guerra com a comadre Dora. O padre Delgado bem que tentou reconciliá-las.

Depois de ouvir uma ladainha de reclamações, o padre falou:

- Mas, minha filha... Jesus veio para promover a fraternidade, a paz. A senhora agindo dessa maneira está indo contra a vontade d’Ele...

Dona Wanda não estava nem aí para o sermão do padre, achava que ele tinha predileção pela Dora, por isso a defendia sempre mais. Minha gente, ciúme de carolas é de doer! Dona Wanda, faladeira que só ela, deu um “cala boca” naquele padre puxa-saco duma figa...

- Padre, o senhor vai me desculpar... Mas, eu acho que aquela velha tá é caduca! Dizer que a papa de milho dela é melhor do que a minha!
A Dora para mim é como esse baião de dois que o senhor está comendo...

- Que isso, minha filha... – Indignou-se o padre.

- Escuta primeiro, depois me diz se tenho ou não razão. Eu acho que a Dora é uma porcaria porque ficou desfazendo de mim. Então, veja bem... A comida, somos nós fiéis; a boca, a porta do céu; o estômago, o sonhado Paraíso. O que for bom permanece no corpo que é o templo de Deus como o senhor sempre diz. O que não for bom, vai direto por inferno, é expelido – vira bosta!

Nem mesmo padre aguentou com a “metáfora” da dona Wanda, começou a dar risada alta.

- Desculpe, dona Wanda... Não pude resistir! Apesar da sua comparação grotesca, denota que a senhora presta atenção em minhas homilias e também possui muita sabedoria...

Vendo que era impossível naquele momento, mudar o pensamento da Wanda, o padre despediu-se dizendo:

- Já que a senhora tem ciência das coisas, vou deixar que Deus ilumine suas ideias e toque seu coração para que se reconcilie com sua amiga. Afinal, quarenta anos de amizade não pode acabar por causa de ciúmes de quermesse...

- Ora, padre Delgado! Aquela “borra bosta” só sabe preparar papa de milho porque fui eu que a ensinei. Agora ficar falando que a dela é melhor, é desaforo! – Alterou-se dona Wanda.

Já ia descendo as escadas para ir embora, quando dona Wanda perguntou fingindo desinteresse:

- Padre... O senhor sabe o que a Dorinha vai vender na festa de Santo Antônio esse ano?

- Acho que ela disse que fará aquela saladinha que adoro de trigo para quibe com tomates, azeitonas, pimentão, cebolas, regada a um bom azeite... Hummm, além de deliciosa é saudável!

-Ah, o senhor gosta de tabule? Na próxima vez que vier almoçar aqui em casa, vou preparar-lher a minha receita e nunca mais vai querer provar de outra pessoa, entende?

Dando uma risadinha, o padre afirmou com a cabeça, deu a bênção e foi-se embora.

Wanda ficou maquinando um plano de vingança diabólico. Haveria de vingar-se daquela Dora, difamadora de cozinheira de mão cheia...

***

Quando chegou o dia da quermesse, as barracas estavam lindas decoradas. Logo após a missa e das ladainhas, o povo lotou as barracas. Estavam famintos querendo provar os inúmeros quitutes preparados com esmero pela equipe da Pastoral dos Vicentinos. Dona Wanda e dona Dora também participavam dessa pastoral.

-Mãe, compra uma maçã de amor para mim? Pediu a netinha da dona Wanda.

- Onde tem, meu anjo, em qual barraca? – Quis saber Maria, filha da dona Wanda.

- Na barraca da tia Dorinha. – Respondeu a criança. Como Wanda e Dora eram muito amigas, a menina aprendeu a chamá-la de tia. Bastou pronunciarem o nome da Dora para tirar a Wanda do sério.

- Ô, Aninha, come brigadeiro que a vovó fez, meu amor... – Aliciou dona Wanda.

- Não vovó, ontem eu comi enquanto a senhora preparava... Eu quero maçã do amor! – Bateu o pezinho a netinha. Aos quatro anos de idade, a criança já sabe o que quer, ai daquele que tentar empurrar o que ela não quer!

Sabia que não tinha jeito mesmo, dona Wanda falou para a filha:

-Maria, Maria... Pede “pro” Manezinho comprar pra você... Não quero que aquela metida fique curtindo com a minha cara achando que até minha família prefere o que ela prepara!

- Ah, mamãe... Não vou atrapalhar o Nezinho, não. Ele está ocupado na barraca. – Justificou a filha.

Vendo a cara contraiada da mãe e sabendo que aquilo poderia acabar com sua alegria, falou:

- Ok, mãe, não fica assim que não gosto de ver a senhora tristinha... Fica tranquila, vou pedir para o Bitura comprar. Mas, não me coloque mais no meio dessa guerra fria entre você e dona Dora! – Maria divertia-se com as encrencas da mãe.

Tudo corria animadamente. Ninguém sequer desconfiava o que estava por acontecer... Dona Wanda imaginou em colocar óleo de rícino no tabule da dona Dora. Estava só esperando uma oportunidade para pôr em prática seu plano macabro.

Quando dona Dora foi até a sacristia buscar talões numerados para vender suas iguarias, dona Wanda correu até a barraca dela, destampou o panelão de salada, despejou três vidrinhos de óleo de rícino e um lata de azeite de oliva para camuflar sabor e cheiro do laxante.

Dá para se ter uma ideia do que aconteceu depois disso...

Na hora que comiam a salada só se ouvia elogios! “Hum... Que gostoso!” e “Uma delícia!”

Após uma hora mais ou menos, a barriga das pessoas que comeram da salada fazia um barulhão... “Blammmpi”. Parecia que tinham baratas por toda praça da igreja! As pessoas andavam afoitas de uma lado para o outro procurando banheiros. Uns iam para o bar do Zé, outros para a farmácia do seu Haroldo. Quem morava perto, ia aos galopes para casa.

As palavras antes elogiosas para a salada da dona Dora, uma hora depois mais ou menos, deram lugar a críticas:

“-Comida estragada!” ou “-Bem que senti um gosto estranho na salada...”

Dona Wanda sentiu uma grande de satisfação quando ouviu alguém dizer:

“-Dona Dora perdeu o jeito de cozinhar, já era!”

O plano surtiu efeito esperado. Dona Wanda estava vingada!

O Russo, um rapaz ruivinho muito bem-humorado, estava verde de cólica. Ainda teve humor para fazer um gracinha:

-Depois aqueles cientistas intelectuais ficam dizendo quem manda no corpo é o cérebro! Eu penso diferente... Quem manda no corpo é o “fiofó”, pois na hora que ele diz que vai despejar os inquilinos, não há cérebro que se controle e obedeça para não sair as bostas! - Dito isso, “despinguelou” para o banheiro do posto Petrobrás.

A única preocupação da dona Wanda era com as crianças e mulheres grávidas. Ela ficava vigiando e dava um jeito de avisar. Mandava o neto adolescente dizer que a mãe dele passou mal depois de comer o tabule. As pessoas ficavam com medo de intoxicação e desistiam de comprar.

Aquela confusão estomacal fazia dona Wanda se divertir. Aproximando-se do padre Delgado, perguntou:

- Ô padre, o senhor provou da salada da dona Dora que diz gostar tanto?

O velho padre estava suando em bicas, só teve o tempo de responder:

-É... Parece que esse ano ela usou um tempero diferente... Ai, meu Deus... Preciso entrar um minuto...

Padre Delgado correu para casa paroquial, antes porém, pôde ouvir os deboches da fiel Wanda:

- Pois é, padre... Não falei que a gente é igual comida? O que é bom vai para o céu, o que não presta, vai “pro” inferno... É tudo bosta! Ainda acha que a comida da Dorinha é uma delícia? Ha, ha, ha, ha!!

A risada da dona Wanda naquele momento não parecia com a de uma fiel, lembrava mais uma bruxa zombeteira... Lembrava sim!







Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 18/02/2009
Alterado em 16/06/2013
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