PALAVRAS QUE FAZEM A GUERRA...
-Uma, duas, três... duzentos e trinca e cinco... Ah, cansei Rosi!
- Mas, a idéia foi sua Lanna, de contar as estrelas... Eu bem que não queria contar porque minha avó diz que dá verruga.
- E você acreditou? Fala sério... – Disse Lanna de seis anos de idade. Menina inteligente mas, sem “papas na língua”, tinha a mania de achar que já sabia de tudo. Apesar de ser bem esperta para sua idade, não passava de uma menina sonhadora.
- Claro que acreditei! – Respondeu a pequena Rosi de cinco anos. E continuou. – A minha vó tem três pintas no nariz e uma verruga no queixo...
- Aaaah, isso é coisa de velho! Meu primo já é grande, tem doze anos e disse que as pessoas vão ficando velhas e nasce um montão de pintas, de verrugas e o nariz fica enooooorme! Não foi por causa de terem contado estrelas não... Isso é mentira das grossas!
- A minha vó não é mentirosa! – Rosi amava a vozinha dela e ficou brava ao ouvir aquela acusação.
- Tá... Então ela é uma bruxa! Bruxas têm pintas e verrugas no rosto... Há, há, há! – Debochou Lanna.
- Bruxa é sua mãe que pinta o cabelo de roxo e de vermelho!!! -Choramingou Rosi.
- Repete o que disse para ver se não “sento a mão” no seu nariz! Aí você vai contar estrelas ao montes e vai aparecer é uma verruga enooorme na sua cara de babaca do soco que vai inchar!!!
Rosi era pequena mas, não era burra! Deu dois passos para trás e antes de sair correndo gritou:
- Filha da bruxa que come sapo e bebe água de ralo!!!
Lanna até tentou pegar a Rosi. Quando já ia alcançá-la, sua mãe chamou:
- Lanna, venha meu amor, tomar banho para jantar.
De bico, vermelha, olhos lacrimejados, Lanna entra em casa. A mãe percebe que a filha está contrariada e a chama para conversar:
- Possa adivinhar? Brigou de “nooovo” com a Rosi e agora é para sempre e você jura de pé junto e vai devolver todos os brinquedos que ela já deu para você, inclusive aquele anel de amizade que muda conforme o humor que você adooora! Acertei?
- Mas, agora é mesmo pra sempre pra sempre! – Disse convicta a pequena Lanna.
- E do que ela me chamou dessa vez? Camaleoa já foi, arco-íris, perua louca, árvore de Natal...
- Nada disso! Hoje foi pior. Ela chamou você de bruxa, mãe. – Disse justificando o motivo da zanga com a amiguinha.
-Hummm, sei. Agora me diz do que você chamou a mãe dela?
- Mãe não, vó dela... Hã! – Lanna viu que deu uma “vacilada” e acabou se entregando para a mãe.
- Bingo! Sabia... A Rosi só me ataca quando você a deixa sem saída. – Lunna quis rir, para não dar confiança para a filha, manteve-se séria.
- Mas, mãe... Só porque eu falei que verruga é coisa de velho e não de contar estrelas, a Rosi ficou com raiva. Prefere ficar acreditando nas historinhas de mentiras da avó dela!
- Você chamou a dona Terê de mentirosa, Lanna? – Lunna ficou mesmo zangada. – Ela é uma vozinha amável, querida por todos. Ela é para mim a vozinha que não tenho mais. Não admito falta de respeito com ela! Já cansei de avisar para você para não envolver adultos nas briguinhas com suas amigas, entendeu?
- Sim, desculpa mamãe... – Lanna estava chorando porque sabia que teria uma punição pelas coisas que falou. Ela ficou pensando... “Quem mandou eu ser assim e falar tudo o que me vem na cabeça?”
- Tudo bem, Lanna! Amanhã iremos falar com a Rosi e pedir desculpas para ela, ok?
E podia dizer que não? Só iria piorar a situação. O jeito foi Lanna concordar mesmo discordando daquela ordem.
- Tá, mãe... Eu peço desculpas... – Respondeu contrariada.
-Vá para o banho e depois venha jantar. – Ordenou a mãe.
***
- Mãe...
- Oi, meu amor.
- Por que a gente não pode falar o que pensa... Falar aquilo que gente acha que é certo?
- Como assim... Não pode falar?
- É... Só porque eu disse que verruga é coisa de velho e que era mentira a história de apontar para estrelas, a Rosi ficou zangada. Disse que eu chamei a vó dela de mentirosa.
- Sim, meu amor... A comunicação é muito complicada. Por falta de uma vírgula numa escrita, pode causar muita confusão. Por causa de palavras mal compreendidas, há a guerra.
- E como se faz então para dizer sem ofender? – Quis saber a Lanna.
- Tem que estudar muito e além disso, querida, pensar com o coração e sabedoria antes de falar o que se tem vontade. Você precisa pensar bem antes de falar qualquer coisa. Eu faço assim, quando estou aborrecida, procuro me colocar no lugar do outro e ver como eu reagiria com aquilo que eu queria dizer. Muitas vezes, eu até mudo a maneira de falar para não ser grosseira ou mal interpretada. Entendeu?
- Eu tenho que ser falsa mamãe? Falar mentira?
- Não, meu bem! Podemos falar a verdade, sem ofender. Se você puder falar de um jeito que a pessoa perceba que ela está errada, é bem melhor.
- Como assim, mãe?
- Bem, vou dar um exemplo que fica mais claro. Quando você disse para Rosi que era mentira apontar para estrelas e aparecer verruga, ela entendeu como se você chamasse a avó dela de mentirosa. E na verdade, você não quis dizer isso. Você quis dizer que isso é lenda, não há comprovação científica...
- Então, mãe! O primo Nico falou para mim a verdade...
- Lanna, eu também sempre falo a verdade para você. Desde que nasceu, seu pai e eu combinamos de falar tudo para você, aos poucos, de acordo com a sua idade. A verdade sempre!
- Eu lembro quando perguntei como nascem os bebês. Achei estranho... Mas, sabia que era o jeito certo porque foi você que me explicou tudinho.
- Claro. Do mundo, de Deus, daquilo que sei eu vou dizer a verdade. Não a “minha” verdade, porque aí já seria minha opinião pessoal. E muita gente faz assim, fala “verdades pessoais” e por isso causa tanto desconforto e confusão no mundo.
- Mamãe...
- Oi, Lanna...
- Quando eu crescer e tiver meus filhos, quero ser como você, falar só a verdade para eles também.
- Oh, meu amor... Que bom que você me entendeu ! Vem cá da uma abraço na sua bruxa de cabelo vermelho...
E riram abraçadas mãe e filha, num momento de amor... Amor de verdade.
***
Há esperança de um futuro de paz, um mundo melhor toda vez que alguém se compromete a falar a verdade sem magoar o outro. Pense no seu semelhante como um espelho. Você ofenderia sua própria imagem? Como se sentiria sendo destratado?
Suas palavras promovem a PAZ ou a GUERRA?
Pense nisso antes de dizer “suas verdades"... Saber falar é um dom, falar sem ofender, é sabedoria!
Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 15/01/2009
Alterado em 19/01/2009