LUDIBRIAR O CÉREBRO...
Foram até o mercado mais próximo que ficava a doze quilômetros do mosteiro. O mestre pediu ao mercador que distribuísse igualmente os legumes e frutas em quatro sacolas. Pediu ainda que as pesasse uma de cada vez para que o peso fosse exatamente igual em todas elas.
E assim foi feito. A balança marcou com precisão cinco quilos em cada sacola.
Ao sair, o mestre voltando-se para o mercador, fez um último pedido:
- Meu amigo, faça a gentileza de pesar cem gramas de uva-passa que levarei também.
O mercador estranhou a pequena quantidade de fruta seca que o mestre solicitou. Ele nunca pedia tão pouco, pois além dele no mosteiro, havia mais vinte discípulos. Entretanto, com um sábio não se deve questionar, apenas atender o que foi rogado, assim fez como foi pedido. Já ia colocar junto com as frutas na sacola, quando o mestre interrompeu:
- As passas, caro amigo, deixa-as fora que carregarei em separado.
Desta vez quem ficou surpreso foi o discípulo. Mas, pensou que o mestre deveria ir comendo pelo caminho até o mosteiro.
O mestre pagou as compras, agradeceu e partiu ao lado do seu discípulo, cada um com duas sacolas pesando cinco quilos. Era muito peso para a distância que percorreriam. Mesmo para um rapaz forte e preparado como aquele discípulo era bastante esforço, ainda mais para aquele sábio mestre de sessenta e cinco anos...
Algumas passadas após o mercado, o mestre segura as duas sacolas apenas com mão esquerda, ficando apenas com as cem gramas de uva-passa na mão direita.
Depois de meia hora, o discípulo incomodado com o desequilíbrio do peso, logo comenta:
- Mestre, vai agüentar dez quilos numa só mão? Pelo caminho vai cansar mais rápido por conta do desequilíbrio do peso. Dez quilos numa mão e cem gramas na outra!?
O mestre apenas sorriu acenando com a cabeça afirmando que iria sim. Interessante era que o mestre mantinha a fisionomia serena, enquanto o jovem, apesar de tenra idade, mostrava sinais de cansaço e alteração no humor. Seguia sisudo e silencioso pelo caminho.
A certa altura, dois sitiantes que seguiam para a cidade avistaram aquela cena. Um deles, o mais curioso, não se conteve e perguntou:
- Ó mestre... Diga-me por que esse rapaz novo, forte está com esse jeito taciturno e cansado e o mestre está carregando também duas sacolas numa mão e na outra, apenas umas gramas de uva-passa e tem na face a tranquilidade estampada? Por que carrega todo peso numa só mão e na outra quase nada?
O sábio mestre levantou os olhos em direção ao seu interlocutor e sorriu. Deu uma pausa e explicou:
- Caro amigo sitiante, faço isto para enganar o cérebro... Ao caminhar, levanto as passas até meus olhos e penso mesmo estar carregando algo tão leve que sigo feliz e descansado... – Depois de satisfazer a curiosidade daquele sitiante, o mestre continuou seu caminho feliz e sereno.
Tanto os sitiantes quanto o discípulo, ficaram admirados com a sabedoria do mestre. O discípulo até reanimou depois daquele aprendizado. Sabia que aquele gesto em se sacrificar levando peso em uma só mão, era mais uma lição que o mestre passava para que ele suportasse as durezas que haveria de encontrar pelo caminho ao longo da sua vida.
E seguiram de volta para o mosteiro...
Quantas vezes, depois dessa lição também eu sigo a enganar meu cérebro... Quando uma dor aparece, lembro do sorriso de uma criança, de um amigo e de novo volto a ficar feliz. Quando a morte assombra minha família, lembro da Ressurreição da Vida Eterna e nessa crença, a vida segue com mais ânimo e esperança. Quando a solidão insiste em fazer morada em mim, penso nos momentos felizes que junto passei com quem amo, dessa forma, a alegria é tanta que me sinto realmente preenchida e ocupada que ela afugenta qualquer sinal de isolamento.
Agora aprendida a lição do mestre, nada me tira a paz ou rouba minha alegria, porque aprendi a ludibriar tudo que me é nocivo.
Então, quando qualquer coisa deixar o amigo leitor triste, faça como o mestre ensinou : Engane o cérebro e de novo volte a sorrir!
Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 11/01/2009
Alterado em 21/01/2009