LIÇÕES DE UM PAI...
Amo meu pai. Muito do que sou, devo a ele: firmeza, poder de decisão, gosto pela leitura e escrita, e acima de tudo – minha índole.
Movida por esse sentimento de honradez, venho dividir uma história que meu pai me contou há muitos anos quando eu não passava de uma garotinha. Foram suas histórias, seus ensinamentos e exemplos ao lado da minha bondosa e sábia mãe que moldaram meu caráter. E hoje partilho com você, amigo leitor.
Cada vez que conto esta história, faço de uma maneira diferente por não me recordar piamente das palavras do meu pai. Mas, guardei bem a mensagem, e isso é que importa. O título que uso é o mesmo - Justo Juiz.
Fazendo das palavras do Evangelho de Mateus 13,1-23, as minhas, repito:
"Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça" Ou quem tem olhos, que leiam... E aprendam!
O JUSTO JUIZ...
Certa vez um solitário beduíno seguia em sua viagem pelo norte da Arábia Saudita. Já havia percorrido longo caminho quando decidiu parar e deixar seu camelo descansar. Avistou uma grande caravana com mais de trinta camelos, denunciando que o Sultão era senhor de grandes posses. Era tardizinha e resolveu parar perto daquela caravana para pernoitar.
Vendo que o escravo do Sultão preparava um delicioso carneiro na brasa, teve uma idéia. Pegou no seu alforje os dois pães que trouxera para sua refeição durante a travessia do deserto. Depois, aproximou-se daquela fogueira improvisada onde estava sendo assado o carneiro e depositou os pães em cima das varas de ferro para que dessa forma, quando comesse o pão, teria a sensação de estar saboreando o apetitoso carneiro assado.
O que o beduíno não contava era com a arrogância do Sultão, dono daquela rica caravana...
Ao sair da tenda, o Sultão vê aquela cena e fica furioso. O orgulhoso que era, ele achou uma afronta aquele pobre beduíno ter a ousadia de colocar aqueles pães sobre seu assado.
- Que despropósito que você, beduíno, pensa estar fazendo pondo esses míseros pães sobre meu assado? – Indagou o Sultão.
- Grande Sultão, não quis ofendê-lo... Quis apenas aproveitar o cheiro da fumaça para quando fosse saborear meu pão, tivesse a impressão de estar comendo o carneiro assado.
- Terá que pagar pela fumaça que sai do meu carneiro! Se o carneiro é meu, minha também é a fumaça! – Bradou o Sultão e virando-se para o escravo, ordenou:
- Escravo, venha já aqui! Vá agora até é a cidade, diga ao juiz que desejo vê-lo e traga-o até a minha presença!
- Sim, ó grande Sultão. – Obedeceu o escravo, saindo logo em seguida.
- Eu não vou pagar nada! Absurda essa cobrança! – Afirmou contrariado o beduíno.
Recebido o recado, o juiz foi até o poderoso Sultão ouvir o que ele tinha a dizer. Após ouvir as reivindicações do poderoso Sultão, o juiz ordenou ao escravo que trouxesse o beduíno infrator até sua presença.
Quando o beduíno aproximou-se, o juiz perguntou com autoridade:
- Quer dizer que o senhor confirma ter posto seus pães em cima do assado do carneiro do ilustre Sultão?
- Sim, meritíssimo! Foi isso mesmo que sucedeu. – Confirmou receoso o humilde beduíno.
O juiz novamente, dirigiu-se ao Sultão e disse:
- O ilustre Sultão quer que seja cobrado do beduíno dez dinares pela fumaça que saiu do seu carneiro, correto?
- Exatamente, meritíssimo! Veja que abusado esse beduíno ladrão! – Disse convencido o Sultão.
O beduíno que já estava aflito por temer perder seus dez dinares, uma vez que possuía apenas treze moedas em sua pequena sacola.
Foi então que o juiz com muita seriedade e rigidez ordenou ao beduíno:
- Pegue a sacolinha onde estão seus dinares e sacuda.
- Sacudir? – Perguntou o beduíno temeroso, sem nada entender.
- Isso mesmo. Sacuda com força! – Repetiu o juiz.
Assim foi ordenado, assim foi obedecido.
Dirigindo-se ao Sultão o juiz, perguntou:
- O Sultão está ouvindo o tilintar das moedas? – Quis saber o juiz.
- Perfeitamente, meritíssimo! – Respondeu satisfeito o Sultão.
Com grande sabedoria e sarcasmo, o juiz decretou:
- Então, meu caro Sultão... Pelo tilintar das moedas do beduíno, sinta-se pago pela fumaça que saiu do seu assado de carneiro!
O juiz falou para que o beduíno seguia em paz em sua viagem. O beduíno ficou muito satisfeito por encontrar um justo juiz que usou de sabedoria para decretar a sua sentença, sendo imparcial e justo.
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Como foi sábio aquele juiz! Como me ajudou e ajuda esse singelo ensinamento para que eu não seja injusta com o meu semelhante. Muito bom pagar com o som pelo cheiro da fumaça.
Quisera que todos os advogados recebessem junto com seus diplomas, uma cópia dessa história! Existiriam mais justos juízes...
Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 18/12/2008
Alterado em 08/10/2013