Djanira Luz dj@
As Palavras Que Criam Vida...
Textos
DESABAFO DO MENINO QUE SOFRE...
Deus! O Senhor me ouve? Está aí? Está aqui? Está em todo lugar? Eu acredito que o Senhor existe, mesmo que eu nunca o tenha visto, porque o sinto em meu coração sofrido... Sabe por que eu acredito? Porque assim como ar que não vejo, assim é o Senhor. Não o vejo, mas sinto sua presença na minha vida.  Não posso viver sem o ar e sem o Senhor também não consigo viver. O ar me faz respirar, aí me sinto vivo. O Senhor me faz pulsar o coração, aí sei que vivo estou! Mas, por que não recebo sua graça quando mais preciso?

Mas, meu Deus, então por que tem permitido acontecer tanta coisa  ruim com meu pai, com minha mãe, comigo e meus irmãos? Sou apenas um garoto de oito anos de idade, não entendo muito coisa da vida ainda, mas na televisão passa no noticiário gente que ganha muito dinheiro e muitas vezes, meu Deus, elas ganham o dinheiro de uma forma errada... Roubam, enganam e nada acontece com elas e meu pai que sofre, luta, acorda cedo para trabalhar longe de casa recebe tão pouco que mal dá para comprar alimento para a família... Enquanto os homens ricos têm vários carros, meu papai vai trabalhar a pé... Enquanto alguns se fartam de belas refeições, aqui em casa a gente põe é água para render o alimento...

Não sou ingrato, Deus, mas por que não muda essa história? Por que não interfere aqui embaixo? Será que aquela escritora tem razão quando diz que esse mundo é do anjo caído, do diabo? Por que nos deixa sofrer? Não precisa fazer meu pai rico, nem minha mãe, mas apenas dê um trabalho para eles...

Sabe o que me dói? É ver minha mãe triste. Acaba comigo... Ainda mais em saber que hoje em dia, tem mais mães que não se importam com os filhos do que mães que amam seus filhos... A minha mãe ama muito a gente e é por isso que não entendo um Deus de todas as coisas, dono de tudo, não se importar com a dor dela, do meu pai, do meu s irmãos!

O que nós fizemos de tão mal para pagar? Por causa dos nossos antepassados? Mas, Senhor, quando enviou o Jesus para salvar a humanidade, ele não renovou a Sagrada Escritura?  Já passou a hora de parar de nos condenar por causa dos pecados do passado! A Bíblia prega para a gente viver o presente porque “o futuro a Deus pertence”.  Então! Não é justo que nos condene por coisas que nem vivemos. Não aceito e nunca vou entender isso!  

Olha, Deus, minha mãe sofre. Não a castigue se ela ficar zangando com os filhos dela...Sabe o que eu descobri? É que ela fica brava assim só por fora... A briga é uma armadura, uma desculpa para ser forte. Ela precisa ficar brigando com o pai e com os filhos porque se ela parar de brigar, ela desmorona. Ela começa a chorar porque vai lembrar que falta comida, que falta roupa para um filho, um vestido novo para minha irmã, contas para pagar, vai ficar pensando que o dinheiro que o pai recebe não dá para nada... Aí, Deus... Ela só chora porque o coração dela não agüenta! E eu não agüento é ver minha mãe sofrer... Por várias vezes já encontrei ela debaixo do pé de manga com aquele olho vermelho de quando a gente chora muito... Ela diz que é por causa da cebola, mas não tem cebola nem cheiro dela... É tristeza mesmo por causa da nossa situação.

Deus... Tenha piedade de nós! Mude nosso destino. Ajude o pai a conseguir emprego melhor, ele é inteligente, fez tantos cursos e não consegue nada... Ele já tentou de tudo, mas se o Senhor não ajudar, aí não tem jeito!

Por fim, quero dizer que não fica provando demais  a minha fé... De tanta tristeza, sofrimento e carências no meu coração, ao invés de aproximar do Senhor, uma hora dessas, nem vou lembrar que existe! Já rezei todas as orações do catecismo, já decorei tantos cânticos da missa, agora Senhor, cumpre sua promessa de abençoar a casa dos que o amam...

Peço sua bênçao, meu Deus! Peço também perdão pelas palavras duras, mas eu sou só um menino de oito anos... Só sei que sou fiel ao Senhor, peço que seja também fiel a mim e a minha família... Vem em nosso auxílio!

Amém!

Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 09/12/2008
Alterado em 10/12/2008
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