Só agora entendo a cara fechada daquela vizinha...

Casa nova, novos acertos a fazer... Fazer boa limpeza, limpeza da casa e do espírito. E lá vou eu, Soledade Ruiz, munida de baldes, panos, detergentes, desinfetantes, esfregão e incensos, fazer boa faxina.

Casa grande, antiga. Na parte que vai para um dos quartos do outro lado da casa, verifico um quadrado grande de tijolos de vidro. Imagino que ali deveria ter sido uma janela antiga que a última proprietária retirou depois de ter modificado a casa e no lugar tampou com tijolo transparente, para manter a claridade.

Puxo a mangueira lá da garagem e começo a enfiar nos orifícios do tijolo transparente que estão cheios de insetos mortos. Uma sujeira nojenta! Após uma faxina de fazer inveja a qualquer diarista, vou para um banho.

A cada semana, repetia a faxina dos tijolos transparentes porque os insetos insistiam fazer morada ali.

Poucos dias depois, já havia feito amizade com várias pessoas do bairro, entretanto, a vizinha da casa da direita, sempre que passava por mim, franzia a testa ou atravessava a rua. Estranhava, mas como ninguém é obrigado a gostar de todo mundo... Fui levando.

Depois de quatro meses, a vizinha da direita continuava arredia comigo. Embora fosse agradável com os outros moradores, comigo não tinha conversa!  Era bico. Não... Era tromba mesmo!

Numa manhã de sábado, ouço barulho na rua. A vizinha da direita, após cinco meses, está de mudanças!

- Uma pena ir sem dizer por que não gostava de mim... – murmurei. – Espero que a nova vizinha seja mais simpática e menos esquisita.

                       ***

Dois meses depois da mudança da vizinha, recebo em minha casa, a Leyr, a ruiva da casa de frente. Conversa vai, conversa vem... Mulher fala de tantos assuntos que a gente nem acredita. Pois é... O que ela falou em dado momento, clareou toda a minha mente. Chegando perto daquele quadrado de tijolos transparentes, Leyr diz:

- Aqui é cozinha da casa vizinha. O fogão da Celi ficava debaixo desse suspiro.

- Suspiro!? – grito surpresa.

- Sim... – Estranha Leyr.

- Quer dizer que vaza água para o outro lado!!!– concluí entendendo toda a fúria da antiga vizinha. Minha cara foi ao chão...

... Devo ter estragado muita comida da pobre da vizinha!