SER AMADO OU TEMIDO?
Não finjo gostar de ajudar, de partilhar o que tenho com quem tem menos ou nada tem. Tenho compaixão pelo outro que sofre. É nítido e notório isso em meus escritos. Costumo dizer, se findarem os filantropos, serei aquela que apaga a luz ao sair de cena. Sofro quando presencio injustiças, preconceitos de todo e qualquer jeito e sensibilizo-me pelas as indiferenças com os menos afortunados... Tudo o que se faz para diminuir ou privar o outro, mexe muito comigo. Por conta disso, desta minha mania de querer ajudar e muitas vezes por falta de coragem ou saber que não posso salvar o mundo, até já “briguei” com Deus.
Bem, aconteceram coisas que fizeram com que revisse meu pensamento. Onde moro, existe um grupo que ajuda todos os meses, famílias carentes. Acompanho de perto o trabalho, contribuo inclusive com doações. É uma obra voluntária, sem quaisquer ônus para aqueles que dispensam tempo e carinho recolhendo doações para as famílias necessitadas.
Hoje, algumas das famílias assistidas disseram coisas com desprezo e azedume. O que ouvi me fez mal:
“- Eles dão essas coisas é porque estão fartos, têm de tudo em casa!” --- “-Pra eles isso ia parar no lixo.” --- “-Nunca vi essa marca de feijão, será que presta?” --- “Cambada de gente à toa, por isso que vem pra cá ajudar.” ---“Aposto que pegam o melhor e levam para casa e deixam essa porcaria pra gente!”---
Presenciando a ingratidão daquelas pessoas, comecei a me certificar de que Maquiavel é quem estava certo em suas afirmações no livro “O Príncipe”. Reproduzo aqui um trecho: “Isso porque dos homens pode-se dizer, geralmente, que são ingratos, volúveis, simuladores, tementes do perigo, ambiciosos de ganho; e, enquanto lhes fizeres bem, são todos teus, oferecem-te o próprio sangue, os bens, a vida, os filhos, desde que, como se disse acima, a necessidade esteja longe de ti; quando esta se avizinha, porém, revoltam-se.”. (Maquiavel)
Meu pensamento foi tão alto que até fiquei sem jeito sem saber se havia repetido as palavras do profeta João Batista. Quando acabei de ouvir as ingratidões de um povo carente, fiquei com a mesma indignação do profeta que pensei: “Raça de víboras!”.
Como o coração que nasceu para amar, sentimento ruim não vinga, minha indignação cedeu o lugar para a piedade e percepção. É até compreensível pessoa carente duvidar de que alguém possa fazer coisas do tipo amor gratuito, num país onde a injustiça é soberana, onde pobre nunca tem vez, voz, alimento, dignidade. Onde políticos envergonham a sociedade com tanta imundice e falta de ética.
Olhando para as famílias assistidadas pensei:“ Eles desconhecem o que é amar e ser amados.”
Amor virou sinônimo de jóia rara. Objeto de museu. É extraordinário encontrar um amor desmedido, gratuito. Uma avalanche de interesses sufoca, espanta e mata o verdadeiro e puro amor. Não é impossível, mas é incomum.
Num finzinho de domingo, por um amor fraternal, incondicional, livre de interesses, posso afirmar que não vou desistir de fazer o que faço por aquilo que ouvi hoje cedo. Meu amor é mesmo gratuito, desmedido. Opto por ser amada e não temida. Prefiro correr riscos a ser injusta.
Se findarem os piedosos... Apago a luz? Ou você fica comigo?
Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 16/11/2008
Alterado em 17/11/2008