Djanira Luz dj@
As Palavras Que Criam Vida...
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SEGUNDA- FEIRA BRABA!!!



Lu, carioca, de férias, de ônibus, viajando, Minas Gerais, Viação 1001, numa segunda-feira.

-Nossinhora, que calor medonho! – resmungou uma senhorinha na poltrona ao lado.

Lu, alegre e divertida por natureza, achava graça... Pudera! Há vinte cinco anos nascida e criada no Rio, aquele calor já era costumeiro, companheiro fiel de bons e maus momentos. Ficou ali pensando:

“Essa senhora precisava andar de trem lotado em pleno verão do Rio por volta das dezessete horas, aí nunca mais iria reclamar de um calorzinho assim...”

A certa altura, o ônubus para e pega maus dois passageiros.

Entra um senhor, cheio de sacolas e os coloca no compartimento em cima da poltrona da Lu e da senhora calorenta. Em seguida, uma mulher bêbada. Não! Ela estava “trêbada” em plena segunda-feira!

-Putz! A farra foi boa...- murmurou Lu ensaiando um risinho.

O cheiro de bebida vencida vindo daquela mulher embriagada causou ânsias em Lu. A mulher cheirava muito mal como se tivesse derramado bebida pela roupa ou era  vomitado... Lu pediu para a senhora ao lado, a “calorenta” para trocar de lugar, pois na janela ela poderia respirar melhor. Sem protesto, a senhorinha acatou a troca numa boa.

Ao longo da viagem, a bêbada foi conversando com o motorista, uma conversa enfadonha entre cantorias e berros. Ninguém estava suportando o cheiro, a voz espalhafatosa daquela mulher. Entretanto, com é sabido que com bêbado não adianta discutir. E bêbado com passagem paga, gozando de plenos direitos é que temos de aceitar numa boa...

A senhora ao lado da Lu, dizia:

- Ah, meu Deus, a pilha dessa muié não acaba nunca?

- Pior, senhora! A dela não deve ser nem Duracell e sim recarregável! – respondeu Lu rindo.

- Um “caloro dus infernu” e essa muié igual uma maritaca na cabeça da genti,uai!!! – reclamou a calorenta.

-Ha,ha, ha! – Lu não se conteve dando a maior gargalhada. Para espanto dos passageiros, a bêbada fala alto para o motorista:

- Aêee, moço, ô moço... Esse povo é tão sem educação, dando gargalhada desse jeito nessa hora do dia... Não tem respeito, pô!

Aí, foi a vez do ônibus inteiro cair na gargalhada ao ouvir as pérolas da cachaceira.

Um rapaz loirinho comentou:

- Brincadeira... É mole? Essa mulher vem dando no saco da gente e quando alguém ri, ela se incomoda... Tá doida!!!

Alguém ao fundo gritou:

- Dá cachaça benta pra ela!!! Pra vê se cura o porre...

Nova risaiada na condução, até o motorista não aguentou... Ficava disfarçando que tossia, mas o danado estava morrendo de rir! Todos no ônibus estavam cheios da falação embriagada daquela mulher.

Numa curva, a senhora ao lado da Lu começou a sentir uns pingos na cabeça, e passa mão nos cabelos. Novos pingos, nova passada de mão. Ela cheira e grita:

-Ôooo disgraaaça! Fuuunn... De quem é a bosta desse embrulho? Tá escorrendo um trem fedido em cima de mim! Ôoo, merda!!!

-Aí, fala sério! Que cheiro horrível! Que isso, cara? – Disse Lu já levantando.

-Ôoo, muié beeesta, isso é queijo de Minas, uai! – Disse o senhor dono do embrulho para a senhora calorenta. – Nem parece que é mineera, fica de paiaçaaada fazendo fuzuê!!!

- Fuzuê uma ova! Sou “mineiiira” sim, mas embrulho bem meus trens pra num “ficá” vazando em cima “dusotros”!

Uma garotinha na poltrona do lado contrário ao da Lu, começou a vomitar por causa do cheiro forte do queijo misturada com o da pinga da pinguça. Aí sim foi um fuzuê daqueles!!! O cômico desse episódio foi o que a cachaceira falou para a garotinha:

-Paara, menina, “pelamooordeDeus”! Não aguento cheiro de vomitado que eu vomito também... Disse já vomitando em cima do motorista que com a cara mais nojenta e infeliz que Lu já tinha visto lamentou:

-Êeeeeee, segunda-feira braba!!!

Gargalhada geral no ônibus. Foi nojento assistir aquela cena da bêbada pondo os bofes para fora, vomitando até a alma. Foi asqueroso, porém cômico.

Ninguém soube quem puxou a cantoria, até que se chegasse a uma parada onde o motorista pudesse fazer o asseio causada pela mulher bêbada, alguém começou a cantar, sendo acompanhado depois pelos demais passageiros:

“Nóis só quer mulher bonita mas as feias nos persegue
Aí nóis bebe, aí nóis bebe...
Nóis torce barbaridade, nosso time sempre perde
Aí nóis bebe, aí nóis bebe...
Nóis ganha uma mixaria e as vez nóis não recebe
Aí nóis bebe, aí nóis bebe...
Nóis bebe até sem motivo e se tiver motivo aí vixi
Aí nóis bebe, aí nóis bebe...” (Cézar e Paulinho)




Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 10/11/2008
Alterado em 12/11/2009
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