OS PÉS DEBAIXO DA CAMA – Da Série ACONTECEU COMIGO.
Os nomes das personagens foram modificados.
Meu primo era um garoto muito rebelde com minha tia. Aos nove anos de idade falava meia palavra e uns trinta palavrões. Tinha ojeriza dele. Não somente pelo palavreado vulgar, mas principalmente pelo desrespeito com a minha tia, que era muito amável e, certamente, não merecia ser tratada daquela maneira por um desconhecido, muito menos pelo próprio filho. Ivan não tinha motivos para tratá-la daquele jeito. Tia Bela era mãe dedicada, amorosa, presente. Tudo aquilo que se espera de uma boa mãe. Aquele moleque é que nasceu com má índole mesmo!
Toda aquela falta de respeito tinha que ter um corretivo, mesmo que fosse do além...
O céu estava nublado, tia Bela pediu ao filho que recolhesse as toalhas do varal que já estava garoando. Antes da chuva de água, choveram palavrões. Ivan pegou as toalhas, não sem antes de ofender a infeliz mãe.
-P...! Tá pensado que sou seu escravo, c...! Vá se ferrar, p...
O semblante da tia Bela há muito era carregado de dor, sofrimento, mágoas. Havia honrado os pais, por que foi ter um filho com aquele gênio? Amargurava esta tristeza em seu peito.
Mas como cada um colhe o que semeia. O destino daquele rebelde estava por mudar.
Na hora de ir para o colégio, não encontrando o tênis preto, Ivan recomeça com o terrível repertório de palavrões. E punha a culpa no sumiço do tênis, claro, na mãe. E abre porta de guarda-roupa várias vezes, espalha roupas pelo quarto, olha na sapateira e nada! Finalmente, resolve olhar debaixo da cama mais uma vez e espanta com aquilo que vê. Ivan dá um grito de pavor. Tia Bela entra e encontra o menino pálido, olhos parados, quase desfalecido tentando pronunciar algo:
- Eu, eu, eu...
-Acalme-se, meu filho. Respire fundo, e diga o que foi.
- Eu procurava meu tênis preto e não encontrava em lugar algum, então olhei novamente debaixo da cama... Foi aí que eu vi dois pés de criancinha andando de um lado para o outro debaixo da minha cama.
Tia Bela, assusta-se com o que houve do filho, pois ouvira histórias há anos sobre aquele terreno antes de construir a casa naquele lugar. Ali perto, uma criança havia sido atropelada, e suas perninhas foram separadas do corpo, sendo lançadas próximo onde hoje era a casa que Bela vivia com a família. Mas ninguém sabia disto nem o marido dela, tampouco o filho. Tia Bela ficou impressionada, embora não revelasse nada para Ivan. Aproveitou o susto para dar uma lição ao filho.
- Estava vendo o que dar ser palavrento e sem respeito comigo? Começa a ser perseguido por espíritos! E toma cuidado que quando é assim, vai aparecendo cada membro até o corpo surgir inteiro para você.
- Mãe... Não fala isso! Por favor, estou arrependido... O susto foi tão grande que nunca mais falarei palavrão. Eu juro!
* * *
Tanto nos lares como nas escolas, o número de criança que falava palavrão caiu espantosamente, lá pelos lados da Estrada do Catonho em Jacarepaguá, no Rio, depois que correu a história dos pés debaixo da cama.
Já não gostava de palavrões, depois do que aconteceu com o meu primo, concluo que é bem melhor ser educada e respeitosa com os pais, e com as pessoas em geral.
Pense duas vezes antes de xingar, ofender, vai que acontece o mesmo com você!!!
Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 27/09/2008
Alterado em 10/05/2021