AS PISADAS DO DEMÔNIO – Da série ACONTECEU COMIGO.
Começa aqui uma série de fatos que relatarei a cada dia ou semana.
Precisou passar muitos anos para que eu tivesse a coragem de partilhar este fato com você, leitor. Acreditar ou não, é sua opção. Os nomes das personagens, foram resguardados.
Sou leiga, não posso afirmar o que foi aquilo. Mas garanto que aquilo me atemoriza até hoje...
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Minha mãe conta que houve um dia em que eu brincava sozinha aos três anos de idade, enquanto minhas irmãs estavam na escola. De repente, sem tirar os olhos do brinquedo, disse-lhe:
- Um carro preto vai pegar a Graça... O moço do carro preto...
Achando ser devaneio de criança, mamãe não deu atenção ao que falei.
Quando deu a hora das minhas irmãs voltarem do colégio, elas chegam afobadas, sem conseguir falar. Estão pálidas, ofegantes. Graça diz:
- Mãe, um homem num carro preto parou perto de mim e da Sarah, abriu a porta e ofereceu bala. Falamos que não aceitamos nada de estranho, aí ele veio de carro seguindo a gente. Corremos muito e ele desistiu.
-É mesmo? Minha Nossa Senhora!!! Bem que a Dora falou...
- Dorinha, mamãe? Como pode isso? – questionou Sarah.
- Não sei, minha filha, não sei...
Depois que cresci o suficiente para ter discernimento, sonhava com algo que iria acontecer. Até hoje isso acontece comigo, embora eu bloqueie, por receio. E também, só em ver uma pessoa por duas vezes, sei precisar seu jeito como se a conhecesse a longas datas. Uns dizem que é um dom; outros, uma maldição. Fico com a primeira opção.
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Quando papai comprou a nova casa, enorme, meus irmãos ficaram bem contentes. Eu também, mas senti alguma coisa estranha que não soube explicar. Dessa vez não comentei nada para não assustar, afinal estávamos felizes ali.
O Quintal era do tamanho de um sítio pequeno, de mais ou menos mil e quinhentos metros quadrados. O pomar repleto de árvores frutíferas, umas bem diferentes para nós na época: cirigüela, ingá, sapoti, araçá, tamarindo, jabuticaba, mexerica, tangerina, manga-espada, goiaba entre outras. Você pode imaginar como ficamos alegres tal qual “pinto no lixo”.
Passaram-se os dias até que a bagunça e a euforia deram lugar a calmaria. Escolhidos os quartos, a vida prossegue. Até que a casa terminasse a reforma, Lia e eu dormíamos na sala.
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Naquela noite, tudo começou...
Não tínhamos a facilidade como hoje, de ter relógios espalhados pela casa, impedindo de precisar a hora certa em que aquilo me acometeu.
Aconteceu quando estava “pegando no sono”. Sinto uma forte pressão sobre o meu ventre, vai subindo pelo meu estômago, pelo meu peito...Um peso horrível, como se estivesse alguém bem forte pisando em cima de mim. Eu me apavorei com aquele peso chegando a pensar que fosse um estranho que invadiu a casa. Passei a mão para empurrar aquele agressor... Mas não havia ninguém ali sobre mim! Fiquei desesperada! Tentei chamar minha irmã, mas minha voz não saía. Aquele peso estava me sufocando, tirando toda a minha força. Queria rezar, mas não conseguia... O medo e o pavor haviam tomado conta de mim. Nisso, alguém falou na minha mente: “Imita o choro de criança.”
Assustada, confusa, mas sem condições de argumentar e por não encontrar saída... Acato as palavras da minha mente e forço, com muita dificuldade, um choro de bebê.
Feito isso, parece mentira, mas o peso sumiu imediatamente. Inexplicavelmente. Assustadoramente...
Depois que passou, mesmo assim, não consegui acordar a Lia. Fiquei imóvel na cama. Acho que rezei um rosário até pegar no sono de novo.
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Logo pela manhã, quando Lia acordou, fui logo contando para ela que ficou num misto de medo e incredulidade. Que raiva me deu! Mamãe falou para rezar, pois aquilo era coisa do mal...
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Depois de algum tempo, até já nem lembrava mais daquilo, rezava e caía no sono. O que não esperava era que aquele peso, voltaria para me atormentar.
Do mesmo jeito que aconteceu na primeira vez, aconteceu na segunda. Mas agora, sabia que se imitasse um bebê, aquilo desaparecia. Logo que senti o peso sobre minha barriga, imitei com muito esforço, um chorinho infantil. Só que demorou um pouco mais para ir embora. O mal -dizia meu avô - é astuto!
Por que imitar choro de bebê? Reza a lenda que tanto choro de bebê quanto o canto do galo, afugenta coisa ruim.
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Minhas irmãs me ouviam falar, mas lá no fundo sabia que elas duvidam de mim. Achavam, quem sabe, eu estivesse inventando toda aquela história para lhes assustar.
Graças a Deus, depois que comecei a fazer orações, aquilo não me visitou mais.
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Alguns meses se passaram e o inesperável aconteceu...
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Naquela manhã, na hora do café, noto um rebuliço na cozinha. É Lia contando - apavorada, quase chorando - o que lhe aconteceu à noite. Quando me aproximo dela, ela diz:
- Dora! Você tinha razão! Eu quase morri... Aconteceu comigo!
- O quê, Lia? O que aconteceu? – indaguei.
- O peso sobre mim... Foi horrível! Graças a Deus que me lembrei do que você falou, para imitar choro de bebezinho. Aquele “troço” voou de cima de mim, desapareceu!!!
Daquele dia em diante, ganhei respeito, credibilidade. Minha palavra era lei.
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Passou-se o tempo e numa noite, alguém receberia uma terrível visita em sua cama, precisamente, sobre seu corpo... Desta vez foi com a Sarah que entrou em desespero, até acordei naquela madrugada. Sarah estava pálida, assustadíssima.
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No dia seguinte, mamãe levou-nos à Igreja para conversar com o padre. Ele deu água benta, ensinou-nos umas preces. Depois daquele dia, aquela coisa ruim, nunca mais a nos visitou.
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Ainda hoje, em algumas noites, sinto medo de que aquilo volte para me atormentar. Agora, caro leitor, já sabe o que fazer, se isso estiver aí sobre você...
Djanira Luz
Enviado por Djanira Luz em 26/09/2008
Alterado em 24/10/2009